Por Ruth Verde Zein
A Igreja da Vila Madalena organiza-se desde um espaço interno praticamente livre de quarenta por vinte metros, com acesso pela porção média da dimensão maior, disposta faceando a rua, mas bem recuada desta. Cria-se assim um amplo adro que aproveita a porção mais plana do lote, organizado em patamares devido à inclinação da rua lindeira, isolando a construção na porção posterior do terreno; que, devido à sua grande declividade, vai obrigar a apoiar o volume da igreja sobre colunas, de maneira a apresentar o nível de acesso em continuidade à praça.
A estrutura é conformada por sete pórticos de concreto espaçados a cada cinco metros, amarrados por uma viga central na linha das fachadas, interrompida apenas nos dois vãos de acesso, viga esta que se estende em balanços de cinco metros nas extremidades longitudinais e apoia a laje, elevada do solo, que conforma o piso do salão da igreja. Nos primeiros estudos o pórtico seria organizado por vigas inferiores e pilares de concreto, com tramo superior em treliça metálica; a solução final opta pelo uso exclusivo do concreto em toda a estrutura, a grande viga fazendo às vezes de fechamento da porção inferior do espaço interno, sendo a porção superior envidraçada (executada com tijolos de vidro).
A entrada por duas portas geminadas centralizadas dá acesso imediato ao altar, situado no centro geométrico da composição e apenas protegido na parte posterior por meias paredes em quarenta e cinco graus definindo um setor restrito para sacristia e apoio. O público fica disposto simetricamente aos dois lados do acesso, olhando-se entre si com o altar de permeio, numa “arena” retangular em rampa de aproximadamente dez por cento subindo para cada uma das extremidades.
Cada plateia é também dividida ao meio, seguindo a projeção de uma viga superior longitudinal que somente aparece em versões mais adiantadas do projeto, e que possivelmente ajuda a amarrar o conjunto estático, ao mesmo tempo em que faz uma sutil concessão figurativa, embora na forma pouco usual da cruz “tau” (formato original das cruzes romanas usado nas igrejas primitivas), discretamente posicionada nas laterais externas menores.
Os nichos formados pela disposição interna dos pilares em concreto podem fazer referência aos altares secundários das igrejas tradicionais, mas sem qualquer intimidade particularista. Ao contrário, tudo é visível e simétrico, com a única exceção da torre sineira, posicionada em separado, junto ao alinhamento, deslocada à direita para quem da rua olha a igreja, portanto em posição ligeiramente mais elevada.
A lentidão frequente em obras de igreja fez demorar a execução da proposta; esse fato somado a algumas alterações não autorizadas prejudicou a fatura da obra; mas não parece ter alterado os conceitos propostos, somente rebaixado o refinamento dos detalhes. A excessiva novidade do partido que adota as propostas mais avançadas da renovação litúrgica, cobrou um preço no estranhamento com que foi recebida pela comunidade a que se destinava – também, mas não apenas, porque a obra era pensada para nunca receber “acabamento”, intenção plástica radical que se mostrou de difícil compreensão imediata pelo leigo.
Referência: Ruth Verde Zein, A Arquitetura da Escola Paulista Brutalista, 1953-1973, Tese de Doutoramento, PROPAR-UFRGS, 2005.
- Ano: 1956